quinta-feira, 21 de março de 2013

O cheio da infância





Muitas recordações da minha infância estão associadas aos aromas. Cheiros que ainda hoje despertam uma nostalgia gostosa, às vezes combinada com notas de melancolia. Fevereiro, para mim, ainda é a época mais saudosa. Tempo em que sentia, já nos primeiros dias, a fragrância de hera cortada, característica dos primeiros dias de aula no Colégio Coração de Jesus. Como era bom chegar naqueles corredores enormes e respirar o ar de madeira antiga.

Lembro-me de quando as tardes eram livres e intermináveis. Do cheirinho da cama, do Nescau morninho, sempre acompanhado do beijo da Maria, dos acordes de terra molhada e das goiabas que caiam sobre ela, do pé de hortelã, da maresia que ficava ainda mais evidente no fim da tarde e, claro, da dama da noite, que lançava seu perfume inconfundível no jardim.

Junto com a lua chegavam do trabalho o Seu Claudio e a Dona Angela. Papai, que logo subia os morros para a cocheira, voltava com cheio de mato, suor e ração. Imediatamente substituído por notas de sabonete Senador e desodorante Brut de Marchand. Mamãe tinha cheirinho de talco e Julia, de colônia Giovana Baby. Aliás, até hoje minha irmã tem cabelos perfumados, mesmo quando não estão lavados.

Tantas lembranças me fazem respirar fundo. Talvez na esperança de reviver alguns destes aromas, muitos deles já extintos. Estou com uma saudade gostosa. Acho que preciso do ar de Rancho Queimado. Com direito a pão caseiro, coalhada, bolinho de chuva e guaraná Pureza. Manhê, faz pra mim?

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