quinta-feira, 21 de março de 2013

Além da ponte




Quando eu era criança, infectaram minha cabeça com os perigos de me perder. Com o medo de estar sozinho num lugar desconhecido e o pânico de não saber pra onde ir (e vir). Até entendo meus pais, pois eles nasceram e cresceram com a mentalidade de que deveriam encontrar a pessoa certa, casar, passar num concurso público, procriar e acumular bens. É a matriz florianopolitana, cidade-província cercada de água por todos os cantos. Ilhada do mundo e, muitas vezes, do bom senso e da cultura “continental”. Certa vez, uma moça que fazia universidade comigo postulou: “passou da ponte é Palhoça”. Talvez, dentro do seu mundinho, ela esteja certa. O restante do Brasil é Palhoça. Berlin é Palhoça, Madagascar é Palhoça. Pobre provinciana. Que se alimenta com as notícias do Jornal do Almoço e engorda o ego aparecendo na coluna do Cacau, em meio a “top DJs internacionais” e “muita gente bonita”. É o estilo de vida que ela escolheu e eu respeito. Mas há tanta vida lá fora. E aqui dentro, o de sempre. Talvez ela tenha medo do desconhecido. Ou Palhoça seja assustadora demais para ela. Tem horas que nós precisamos nos perder para nos encontrar. Cruzar a Hercílio Luz ou sobrevoar o campo do Avaí pra saber que o mundo é bem maior do que um pedacinho de terra perdido do mar.

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