quinta-feira, 21 de março de 2013

Dos males, o medo

Todo mundo nasce com medo. Nós estamos lá, quentinhos na barriga da mãe e, de repente, algumas contrações nos empurram pra um lugar frio, claro e cheio de pessoas estranhas. Do nada, chega uma tiazona e mutila o nosso umbigo. O máximo que podemos fazer é chorar desesperadamente. Enquanto nossos pais olham emocionados a cena. Já pensaram nisso? O trauma que é nascer? E na escola, no primeiro dia de aula? Simplesmente nos colocam numa sala esquisita, cheia de outras crianças assustadas. Aliás, são nos tempos de colégio que entendemos de vez o que é ter medo. Das notas baixas, das anotações, dos meninos do ginásio, das boladas na Educação Física, do bullying, das decepções e por aí vai. Quando saímos da escola, pensamos: acabaram-se as ameaças. Ledo engano. Começam os temores da profissão, da vida amorosa, dos financiamentos em longo prazo, da velhice. Até casar, juntar os trapinhos, viver uma vidinha medíocre e, finalmente, nascer o maior de todos os medos: ter um filho. Porque ser pai – ou mãe – é assumir os maiores temores da terra. Um amor que dói, mas que conforta. E só abranda quando vemos nossas crianças adultas, donas de si. Aí vem o receio da solidão, a ameaça do esquecimento, os temores das doenças. E a vida segue, amedrontada, até que batemos as botas. E descobrimos, finalmente, a cura dos nossos medos.

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