Sou publicitário. Lido todo dia com fotos de pessoas felizes, brindando uma vida perfeita, longe dos problemas, abraçadas com a solução. Em meus anúncios todos têm dentes brancos e perfeitos. São altos, louros e de olhos claros. As famílias são completas, geralmente acompanhadas de um belo cão labrador.
Sou genitor de criaturas de um mundo utópico. Minhas peças enaltecem o belo, o superficial, momentos de uma falsa felicidade. Mentirosa, pois se apaga junto ao clarão do flash. Se a família feliz sorri é porque lhes pago cachê. Se os dentes são claros e bem formados, é porque a produtora os selecionou. E também foi bem remunerada para isso.
Eu sou baixo, levemente calvo e tenho uma barriga nada sensual, mas produzo final feliz e crio estereótipos convencionais. Pessoas que eu queria ser, com quem queria estar. Com um lápis na mão e uma idéia na cabeça tenho autonomia para tudo. Posso ser profundamente infeliz e representar alegria e muito sucesso. A vida é uma grande propaganda. Mas no fundo, bem no fundo, há um produto igual a todos os outros, com preço acessível, produção limitada e pontos de venda pra lá de esdrúxulos. Na verdade sou apenas mais uma embalagem na prateleira. Comum por fora, diferente por dentro. Sou publicitário.
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