quarta-feira, 7 de março de 2012

Poema dos Abraços

 Se existe uma coisa mais interessante que o beijo é o abraço. É a forma mais acolhedora de envolver alguém. De cercar-se de carinho, de seduzir ou, simplesmente, de cativar. Abraços servem para o pai, para a mãe, para os irmãos, para os amigos, para os amores, para os perdoados, para os vencedores, para os perdedores, para os sofredores. Para quem a gente quiser.

Abraços são invasões permitidas. Desarmam até mesmo os mais armados. Abrangem, dominam, aninham. Abraços protegem. E nos fragilizam. Porque apagam o ódio. Como uma bandeira branca. Que nos rende. Aos braços. Aos abraços.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Parada obrigatória


Para o frio, cobertor de orelha.
Para o calor, hálito refrescante.
Para o tédio, risadas.
Para a falta de ar, respiração boca a boca.
Para o mau-humor, silêncio.
Para a fome, jantar.
Para a carência, elogio.
Para a tristeza, abraço.
Para o tesão, sexo.
Para a solidão, companhia.
Para ansiedade, segurança.
E para tudo isso junto (e misturado), amor.
Só ele para sustentar tanta instabilidade.

Crônica dos desejos adormecidos 2

Uma vez, em lugar muito distante, encontrei um espelho sem imagem. Atrás dele havia uma mensagem que dizia para eu esfregar a superfície. A promessa era a possibilidade de me enxergar daqui a dez anos. De pronto, segui as instruções, na expectativa de ver quem eu seria e onde estaria. Que ironia! Na imagem, eu era apenas um cara careca com bolsas debaixo dos olhos. Não vi carro potente, nem família aparente. Vi apenas um homem calvo e com rugas. Foi aí que eu percebi que os planos são apenas projeções. A maioria utópica.

Se eu encontrar este espelho novamente, vou driblar a curiosidade. E matar essa obrigação de ser a pessoa mais feliz do mundo. Porque a felicidade não é uma constante. São apenas pequenos intervalos de euforia.

Na verdade, nós temos menos obrigações do que imaginamos. E as pessoas nem estão tão interessadas nas nossas vidas. Por isso, reduza seus planos de dez anos para dez horas. Porque são elas que vão determinar o futuro, que de certo, só tem uma coisa: você vai envelhecer.