quinta-feira, 12 de abril de 2012

Velha infância


Quando eu era criança, minha mãe me elogiava dizendo que meus tênis duravam bastante. Eu os trocava apenas quando os meus pés cresciam. E assim, eles iam para a doação quase que intactos.


Meus calçados permaneciam novos não por apreço, tampouco por cuidado. Mas sim porque eu não corria e nem me aventurava muito. Talvez eu seja um dos poucos da minha geração que nunca quebrou um braço ou uma perna. Nem teve assinaturas no gesso ou histórias mirabolantes de traumatismos corporais. 

A sola do meu pé pouco se gastou na terra. Cortes e cicatrizes jamais colecionei. Árvores? Nunca caí de uma delas. Tampouco subi. Eu as achava altas demais para o meu tamanho. Também evitei banhos de rio. Porque a correnteza poderia me levar. Ou mesmo fazer com que eu batesse com a cabeça em uma pedra.

Os dias seguiram seus cursos. Minha juventude desaguou e foi arrastada pela cachoeira. Que também levou os calçados novos, os poucos amigos de escola e as histórias e lembranças natimortas. Sobrou apenas um adulto medroso, que de vez em quando tenta revisitar uma infância que não teve. Tarde demais, Peter Pan. Você se deixou crescer. E o tempo não volta.

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