terça-feira, 4 de agosto de 2009

A hora da estrela

Tudo está aparentemente calmo. Trabalho com a mesa cheia de papéis e envelopes. Ao meu lado, minha xícara de café, companheira de todas as tardes. Estou no meu reduto de idéias, calado e com a minha habitual cara de cansado. Mal sabem que eu sou um ator. Que existe uma ópera dentro de mim. Um teatro cheio de gente, de todos os tipos, que aguarda ansiosamente o primeiro ato do espetáculo. Ninguém sabe que eu sou arrogante, tampouco que mando as pessoas à merda via pensamento. Tolos! Uma hora abro minha fossa e libero toda a minha podridão. Que não se vê, mas que existe. Dia desses vomito tudo aquilo que me faz mal. Jogo o lixo no ventilador.

Adoro a hipocrisia. Estou olhando para todos com cara de nojo. De vez em quando alguém percebe. Abro, imediatamente, um carinhoso sorriso dissimulado - geralmente retribuído na mesma moeda. Tudo igual, sempre a mesma coisa. Os mesmos horários, as mesmas pessoas, as mesmas piadas. Se pudesse cuspiria na cara de cada um de vocês, que me roubam, todos os dias, oito horas da minha vida. O que a gente não faz por dinheiro! E tem gente que diz que não se vende. Mentira. Todos temos um preço. O meu é baixo.

Valho pouco, produzo o mesmo tanto, na mesma escala, todos os dias. Sou mais um peão. Um zé ninguém que terá seu momento de glória. Logo me levanto e começo a chacina. Todos vão se lembrar de mim nessa empresa. Enquanto isso não acontece, levanto-me calmamente e me sirvo de mais café. Amargo.

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