sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Juízo Final


Meu amor é masoquista. Um Cristo que se prega na cruz, por vontade própria, e a carrega apenas por uma mera penitência. Uma indulgência lenta e cruel, que sangra aos poucos. Que seca em meio a uma longa e árida peregrinação.
Vigio tua vida de longe, como um jogo de espelho. Acompanho por trás da persiana teus devaneios, tuas glórias, teus fracassos, teus amores.
Minha paixão é surda e muda. Oxalá que fosse cega. Talvez furar os olhos doesse menos do que acompanhar tua existência, feliz e bem-sucedida. O prazer de sofrer, contudo, é mais doentio, mais sádico, mais vicejante.
Tua indiferença me excita. Tua ausência, sufoca. E sabes disso. Matas-me lentamente, como quem desliga uma máquina de oxigênio e a religa para recomeçar tudo novamente, em um ciclo vicioso.
És causa e conseqüência do meu martírio. Sou inquilino do teu purgatório, teu Judas, que um dia vai te trair e te crucificar. Enquanto isso, eu te vigio de longe e arquiteto tua cruz.
Tudo será religiosamente projetado. Darás teu sangue para salvar a humanidade de tua indiferença.

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